quarta-feira

3ª PARTE

(...) Sedada em seu quarto/cela no sanatório, Nara parece dormir profundamente. Contudo, a estranha jovem que nunca fala e que todos acreditam ser portadora de graves distúrbios mentais, na verdade está consciente. Há muito, as drogas deixaram de fazer efeito nela. Sua mente poderosa aprendeu rapidamente a anular os efeitos psicotrópicos das medicações comumente usadas pelo Dr. Bittecout. Esse mesmo poder mental era o responsável por seu aprisionamento ali. Sua família a temia e resolvera afastá-la do mundo; na ânsia de que seu segredo estranho nunca fosse revelado. Desde que matara seu irmão caçula na infância, seus pais sabiam que algo estranho se passava com ela.

Conforme crescia, seus poderes tornavam-se mais e mais fortes. Fazendo com que passasse a perceber as tênues divisões existentes entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Várias vezes, a pegaram em longas conversas com seres invisíveis e com pessoas que ela dizia estarem mortas.

A gota d’água aconteceu quando finalmente num acesso de fúria inexplicável, Nara acabou assassinando seu irmão. Sua mãe entrou em colapso nervoso e o pai a trouxe para o sanatório. Enlouquecida, a garota balbuciava sons incompreensíveis e parecia implorar perdão. Nunca souberam o que realmente aconteceu; mas, já havia muito tempo, a abandonaram ali. Agora, seus poderes haviam evoluído a tal ponto que ela conseguia distorcer a própria realidade. E usava isso para inibir a ação das drogas em seu organismo; assim como, comunicar-se telepaticamente com quem quisesse.

Agora; ali sozinha na escuridão daquele quarto, via claramente as sombras negras esgueirando-se pelas paredes acolchoadas do cômodo e tomando forma ao redor de as cama. Ela não tinha mais medo. Vira sempre aqueles espectros e assistira, um deles, assassinar seu irmãozinho caçula bem diante de seus olhos. Infelizmente, era ainda muito criança e seus poderes muito insipientes para enfrentá-los e impedir. Novamente, os espectros se anunciavam a ela. O que procurariam? Qual mal fariam agora?

As figuras negras e malditas cercaram seu leito e suas vozes espectrais ecoavam em sua mente como trovões assustadores e encolerizados: “Avisamos a você que se tentasse buscar ajuda, mataríamos quem se aproximasse de você. Por que teimas em nos desafiar? Seu silêncio é a confirmação de nosso pacto”.

Sua cabeça latejava, apesar de saber que os espectros a temiam e que poderia facilmente lidar com eles, sabia que as outras pessoas estariam à mercê de suas malignas atitudes. Ela nunca compreendeu o que os espectros queriam com ela; e nem o motivo pelo qual a obrigaram aquele pacto de silêncio. Tudo o que temia, era que dessem as pessoas que a cercavam o mesmo destino que deram a seu irmão.

Não havia dúvida; naquela noite, eles mostraram como eram poderosos. Em sua mente, eles projetaram a imagem do ataque ao Dr. Sibis na estrada. O fato de poderem projetar-se tão longe e de, mesmo assim, estarem ali com ela em volta de seu leito, a assustava.

Aguardaria os acontecimentos mais um pouco até que conhecesse a exata dimensão dos poderes daquelas criaturas amaldiçoadas. Aí, então, seria a hora de atacar. (...)

Um comentário:

Amanda Luiza disse...

"Várias vezes, a pegaram em longas conversas com seres invisíveis e com pessoas que ela dizia estarem mortas."

No post de antes, não foi dito que ela nunca havia aprendido a falar?